como fugir à dor de ser vivente
como fugir a dor de ser vivente
como fugir a dor de estar presente
e não participante não obstante
este constante encéfalo consciente
como manter no crânio fervilhante
a idéia que o sacode delirante
mas que ao chegar à língua decadente
é quase aborto miseravelmente
como fugir do gueto do dejeto
como fugir do fato de ser preto
como ser preto ignorar o veto
como não ser violento ser submisso
como fugir a um corpo subnutrido
como fugir a um cérebro doente
querer saber querer ser competente
se o dono do dinheiro não consente
como exprimir a dor que se projeta
e alcança lá no lago os palacetes
e avança na esplanada no planalto
ate ser vítima dos cassetetes
como saber na insólita alquimia
que me gerou a que mais me filia
se a melanina à mãe áfrica prende
a fé que vem do oriente nos surpreende
da europa uma certa nostalgia
o banzo das senzalas no meu pranto
ou mesmo um prazeroso apego ao ócio
de ancestrais aborígenes espertos
quero encharcar a mente de aguardente
pra sufocar a sina cocaína
depois fujo do fado pro sagrado
ou me consolo vitima da mística
mas quando irromper a fúria imensa
e a violência for a escapatória
e a historia repetir-se como em frança
a turba avançará na consciência
de que só será vista e percebida
quando incomodado o magistrado
e o senador juiz ou deputado
sentir na pele a força do mais fraco
quem sabe a arte descarte da gente
a vaga sensação sempre presente
de não haver sentido em ser vivente
nada perene a não ser o mutante
e assim tendo chegado ao fim da lida
certos de haver vencido a tirania
entronaremos sobre nossos crânios
entronaremos sobre nossos crânios
o germe de outras vis oligarquias
Quadro da galeria de Sakuro Onoyama
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