eu não sou mais um radical livre

ao rever estas fotos procuro fugir de qualquer tipo de saudosismo precoce uma vez que adotei este perfil de sólida impenetrabilidade emocional e não posso deixar vir à tona qualquer traço do bucólico sentimentalismo que escondo a sete chaves debaixo das minhas sete capas azuis sob pena de desabar ante o peso de ver sucumbir o que se poderia denominar um sonho acalentado durante meses diante do que intimamente apelidei de incompetência para o exercício da coletividade disfarçada de marxismo e que do alto da minha pseudosabedoria milenar e baianamente herdada do que há de melhor em elomar figueira e caetano veloso sem falar da minha proverbial modéstia que faria buda corar como uma virgem afegã se me afigura a principal fonte onde bebe a goles haustos o monstro da ignorância imbusbebável que gerou nos seus dois ventres insaciáveis o fruto podre evidenciado em egos dez vezes maiores que os próprios talentos alguns dos quais foram reverenciados no inicio desta minha fala vacilante porém auto-sustentável
afastar-me das atividades dos radicais livres que fundei com meus companheiros tornou-se imperativo ante o fato bastante conhecido por quem de direito de que nos bastidores dos eventos por nós capitaneados ocorriam situações de cunho acentuadamente egocêntrico hipócrita malévolo e politiqueiro que ao longo do tempo geraram mal estar de tal monta que o gosto quase gozoso da confraternização final em torno das fatias de pizza gentilmente fornecidas primeiramente pelo generoso eugenio e posteriormente pelo igualmente generoso saulo até chegar recentemente ao templo do forró sansebastianense adquiriu um travo e um amargor ao longo dos vários saraus em virtude (ou vício) das pequenas rusgas rotineiras intermitentemente nocivas entre poucas porém importantes figuras do nosso restrito leque de personas que ao longo do percurso não conseguiram posicionar-se à altura do projeto diuturnamente elevado à categoria de vitrine do que de melhor se produzia neste nosso sofrido rincão eivado de olarias e oleiros que num momento pareciam dotados de mãos preparadas para o exercício da arte cidadania necessária para o utópico encurtamento da distancia entre o centro e a periferia e no instante seguinte já eram flagradas no amealhar de dividendos assaz individualistas e francamente opostos aos ideais que cumulavam madrugadas freudiunguianas nas dependências do centrão entre o tabaco e o absinto oh valei-me gregório de matos
não se quer aqui deixar sequer transparecer que a santidade tenha sido jamais um dos atributos deste cansado escriba autodidata e inédito forjado nas dependências destituídas de ventilação de um barraco de fundos no residencial do bosque cuja inocência tenha sido aviltada por ativistas extremistas do pseudo-socialismo selvagem no afã de mistificar covarde ou 'igorantemente' disfarçados sob a bandeira vermelha que ora tem adquirido uns tons de rosa e violeta mas que nada impede seja de novo tingida com o vermelho vivo do sangue dos apóstatas desta verdadeira fé socialista no sentido mais humanista da proposta e que não carece de siglas para manter-se viva em sua cor e perfume que dagomé nunca foi santo nem quando freqüentava as dependências da congregação cristã no brasil empunhando o seu trombone de varas e colocando a boca no mesmo para desespero dos anciãos que viam naquele agitador precoce a figura de um lobo travestido de um casaco muito semelhante ao que usavam as incautas ovelhas do seu rebanho destituído de indivíduos dotados de elevado grau de quociente de inteligência e que logo trataram de o lançar no lago de fogo e enxofre do flagelo existencial em cujas labaredas o arremedo de consciência do meliante sofreria mormente pela falta de estrutura psicológica que nunca foi um dos pontos fortes de um elemento que jamais digeriu plenamente a quantidade de informação recebida em função da falta de capacidade intelectual que sempre disfarçou bem sob o arremedo de verniz comprado na feira dos importados de um peruano que vivia na bolívia e muitas coisas trazia de lá
não obstante o dito acima é notório entre os pares que o farol do coletivismo sempre iluminou os caminhos do baiano de vitória da conquista como glauber rocha e a luta contra os fachos e tochas do obscurantismo egocapitalsocialistíco sempre norteou a existência deste a quem o futuro dará a alcunha e o status de herói e cuja espada afiada ou seja sua própria língua absurdamente ferina limada que foi na leitura de meia dúzia de bons clássicos entre eles dante e maquiavel e o indefectível gregório nunca cessou de golpear duramente no lombo despreparado de certas figuras esdrúxulas cuja pseudoliderança foi recentemente posta em xeque (mate?) devendo em futuro próximo revelarem-se ou não capazes de reciclar-se no enfrentamento das vicissitudes próprias das zonas mais periféricas da sociedade devendo ou sobressair-se demonstrando a desimportancia da verve capetística do futuro pseudo-herói ou chafurdando-se no lodaçal das mesquinhas irrealizações pessoais cuja importância histórica se revelará ínfima senão nula no desenrolar dos papiros que serão legados à posteridade e que trarão em si os relatos que elevarão os nobres e fidalgos á condição de reis e rainhas e reduzirão a pó a alma dos fracos e mistificadores que proliferam amplamente em nossos átrios mas que serão enfim extirpados quando da ascensão da verdade enfim liberta pela assimilação da cultura como elemento saneador da sujeira que impera enublecendo corações e mentes
deve-se deixar claramente evidenciada a necessidade de se direcionar o grosso dos holofotes desta nossa cena suburbana sobre o talento indiscutível dos artistas que tem se apresentado nestes verdadeiros bolsões de resistência cultural a que denominamos saraus que aqui e acolá se levantam como demonstração viva de que o povo valoriza as manifestações culturais sim! e que a dificuldade de acesso a estas é o maior empecilho para a proliferação de pontos de cultura bem sucedidos inclusive independentes do poder público não obstante esta mesma luz há de iluminar a necessidade premente do desenvolvimento de um espírito de coletividade e união do que podemos denominar fracamente de classe artística uma vez que o individualismo grassa entre os membros desta casta tão carente de locais adequados para a execução da sua difícil tarefa de cigarras tão formigas quanto quaisquer outros trabalhadores e cuja árdua missão tão comprometida pela carência de políticas públicas apropriadas é acentuada pelo exarcebamento de posições claramente opostas ao ajuntamento das forças necessárias para levar a bom termo o ideal de uma sociedade cujos princípios sejam norteados pela priorização da educação e da cultura sem os quais a sonhada mudança pela qual tantos foram feitos mártires não se realizará nem em nossos dias nem nos dias dos nossos filhos pois não será em uma ou duas gerações que realizaremos o sonho de uma sociedade paritária onde as oportunidades sejam iguais para todos independentemente de raça cor ou preferência sexual
com raríssimas e desonrosas exceções meus companheiros da primeira e da última hora a saber os que já citei acima e isaac mendes nilson do violão célio mão de aço vamir vjc eduardo cabeção cristiano silva daniel pereira da silva david diego suricate emerson altair gabriel pendragon gilwilliamjeferson duprado john wayne josélia leleco laercio leomar ph luis próton mauricio bunda de caneta mauro neilma nico roberto rodrigo rangel romário raylan samuel shirle duprado loyson humberto thalita will junior hidra valquiria thuane entre outros que eles são tantos e minha memória pouca estes permanecem ao meu lado e eu ao lado deles atentos e desafiadores das vicissitudes passageiras com o espírito pronto para a exemplo do santo de nome sebastião receber as frechadas com o olhar lacrimoso e apiedado vestido apenasmente com a tanga de pano barato que nos permitirem ficar mas orgulhosos dos nossos feitos passados e dos grandes feitos futuros que nos esperam certamente uma vez que o planalto central não nos poderá esquecer facilmente pois nascemos para uma glória especial e para sermos pilastras no modernoso templo cultural que construiremos ao misturar a argamassa do conhecimento com o sangue da sabedoria que verteremos nas madrugadas insones ao compor o novo hit escrever a nova esquete ou pintar o novo quadro.
que saibamos reconhecer nossas carências e virtudes e repensando-as nos reencontrarmos no futuro para realizações tão significantes como este para mim saudoso e inesquecível sarauradical dos radicais livres sociedade anônima que por ora tornou-se apenas um álbum de retratos digital. por ora.
A Encruzilhada

Fãs de Batman e Robin, sonhávamos com o dia em que teríamos um lugar secreto para guardar os vários apetrechos que íamos comprando aos poucos - canivetes, binóculos, cordas, lanternas - até chegar ao nosso próprio carro personalizado, passando antes, é claro, por walkie talkies que falariam a longa distancia. Sonhávamos com o milagre do celular. Não sei com que argumentos conseguimos convencer uma garota de uns 22 anos a ser a secretária da ASD. Ela recebia telefonemas e recados enigmáticos de um ou outro de nós, repassava a quem indicávamos, anotava o que pedíamos, marcava reuniões às quais só nós dois comparecíamos e nós jurávamos que ela não sabia o que estava escrito naqueles bilhetes (Até o dia em que descobrimos que o pai dela era detetive de verdade e ensinara a espertinha o código que usávamos e que supúnhamos indecifrável até pela SS nazista) Com o tempo adquirimos uma série de objetos ultra necessários ao nosso ofício: uma boa lanterna, uma bússola vagabunda, uma faca de pescador, alguns apetrechos e já tínhamos idéia de quantos meses seriam necessários para comprar os tão desejados e necessários walkie talkies. Escondíamos os objetos menores em furos que fazíamos nos muros da escola, em lugares recônditos, e todos os dias após a aula, pé ante pé, passávamos para ver se ainda estavam lá.
Compramos um livro que ensinava uma técnica de karatê e praticávamos depois da aula até escurecer e tínhamos certeza de que ficaríamos quase tão bons quanto Bruce Lee se treinássemos bastante. Adquirimos “O melhor Vendedor do Mundo” de Og Mandino e “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” de Dale Carnegie, quando não sabíamos o que era auto-ajuda. Ouvíamos música popular instrumental, tocada por aquelas big bands americanas, líamos tudo que nos aparecia pela frente sem nenhum critério e nos achávamos eruditos. Tínhamos certeza absoluta de que éramos os caras mais inteligentes da escola, mas nunca perdíamos tempo tirando notas acima de 7, pois tínhamos mais o que fazer. Quando eu repeti o 2º ano foi um deus-nos-acuda lá em casa. È que a minha preocupação era tirar nota média e eu acabei vacilando. Economizávamos como loucos para assinar o jornal A Tarde (Um dos melhores da Bahia) (esqueci de dizer que somos baianos e tudo isso se passou em Vitória da Conquista, a melhor cidade do País) e parecer informados. Imitávamos a SHIELD, uma revista em quadrinhos da Marvel e a logo da ASD era inspirada no escudo daquela organização. Adorávamos o Homem de Ferro e sua corporação. O Planeta Diário era um sonho. E tínhamos certeza de que teríamos a amizade do delegado da cidade e o chamaríamos na intimidade de Gordon.
Os Radicais Livres levaram ao extremo a idéia de agrupamento secreto ou não secreto, atuante e organizado, que acalentei na adolescência. Os Radicais Livres, que a princípio chamei de Ordem dos Templários, até perceber no Google que havia milhares de sítios e agrupamentos com esse nome, são minha razão de viver. Minha melhor idéia. Meu melhor poema de amor. Meu time do coração. Minha cachaça. Meu pó. Minha papoula da índia, minha flor da Tailândia. Meu sex and drugs no episódio quatro do Radical Rock.
E tudo que imaginei para a ASD virou uma estranha e maravilhosa verdade com os Radicais. As pessoas falam de nós em todo o Distrito federal como “a coisa” underground do momento, um negócio contra cultural, um fenômeno paranormal, um mito, um misto de punks, nerds, beats, gays, bad boys, anarquistas, bichos grilos, mistificadores e afins.
Nosso slogan é “A tecnologia da Mistificação”.
Nosso grito de guerra é “Se lasque, doido”.
Nosso lema “Quem conosco não ajunta, espada”.
A frase abaixo do nome do nosso jornal é “Antes que os homens virem macacos”
O mote do Radicalrock é “Um cons(c)erto na periferia”.
E pra não chocar os mais sensíveis a frase no nosso portfólio abaixo do nosso nome é “A arte como caminho...”
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Amo ser Radical Livre. Sempre achei que formávamos uma confraria espontânea, detentora da capacidade de debater qualquer assunto, com tal arrebatadora paixão que pudesse parecer, a quem nos ouvisse de longe, que estávamos a defender a própria vida naquela absurda argumentação. Porém, mal nos afastávamos uns 30 metros do lugar da disputa e já estaríamos a falar putarias benfazejas, sem pejo ou sentimento de culpa, pelas esquinas enviesadas da nossa suburbana san sebas.
Achei que, deste fervente caldeirão literário surgiria, é claro, o novo movimento cultural de Brasília e certos caras - que não posso citar aqui, pra não inflar os egos já devidamente assoberbados dos mesmos - viriam à boca de cena carregados duma pletora de erudição inconfundivelmente periféricas, dado o desordenamento mental natural em função da origem dos meliantes, porém, que vigor! E que tenacidade nos grunhidos prenhes de lucidez que estes selvagens ilustrados bradariam pelos descampados do altiplano.
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Qual o quê! Uns tantos ditos radicais dotados de ultra-sensibilidade disseram não poder sofrer com tanta maledicência e, aos poucos, foram afastando-se do malfadado convívio com a língua de trapo daqueles que julgavam ser exatamente essa seca ironia, o mais fino biscoito produzido pelos Radicais Livres. O espírito revolucionário que movia essa parte dita diabólica dos grupo e que nunca foi entendida pelos ultra-sensíveis era, na verdade, a que construía, a que movia, a que tombava montanhas, a que revirava ruínas á cata de estranhos tesouros, a que se entranhava trágica no estudo da condição humana, sem medo de cair no ridículo de não encontrar deus no fim da extinta luz do túnel inesgotado, por serem donos de uma natureza brutal nunca jamais nem never more vencida pelos embates da guerrilha onde empunhavam corajosamente a espada cega da língua portuguesa em seus poemas e canções de próprio cunho.
Fomos, por conta dessa falta de pudor ideológica que nos guia, lançados como Daniel na caverna dos leões e lancetados no canto da jaula da luta partidária, pelos guardiões da verdade inexistente, por desrespeitarmos a ordem imposta pelos detentores da bandeira dita socialista já manchada pelo barbudo e outros asseclas pelo pragmatismo que permeia as maiores conquistas eleitorais dos últimos anos e, descortinando um novo horizonte de possibilidades enviesadas pela desestrutura da nossa desdidática desprovida de método, não sabendo que era impossível o que almejávamos, nós, os historicamente desalinhados, os ideologicamente desaparelhados, os metodologicamente desamparados, os filosoficamente descamisados, os boquirrotos, os palhaços, os bobos da corte nos tornamos, a pouco e pouco, a elite cultural do gueto sem saída
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A preocupação com arte e cultura que deveria ser a tônica das nossas atividades perdeu força para as elucubrações político partidárias e ideológicas. A possibilidade dos membros terem variadas posições partidárias indo da esquerda à direita sem maiores empecilhos passou a ser heresia sendo vedada a mim, inclusive, a possibilidade de me filiar a um partido por conta de mesquinharias partidárias. Passou-se disto a um verdadeiro proselitismo em busca de fortalecimento de uma “tendência”. E então éramos dois monolíticos blocos lutando por posições dentro da Associação.
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Chegou-se então a uma encruzilhada e eu, abrindo mão da minha naturalíssima verve diplomática, devo ser sincero, franco e rijo. Eu percebi que o mundo está aberto para nós, ávido de ser conquistado e regido, quando disse no hit “A Bola Azul” que “Serafins povoam minha solidão desgovernada, mas eu só vejo sombras e fantasmas desembainhando espadas” e denunciei que nós, habitantes do gueto, insistíamos em permanecer nesta eterna e maldita autovitimização, onde o dito “burguês” “em tese”nos exploraria e nos manteria debaixo do seu tacão pelo puro prazer de nos atazanar.
Palhaçada! Se nós o que queremos é ser burgueses e comprar um carro zero á vista! Babaquice! Paralisados no esquema que nos auto-impusemos, vivemos na órbita dos ídolos passadistas da bossa nova e da MPB e esquecemos que a melhor canção é a que pulsa inédita da nossa boca ressequida e o melhor poema é o que nós mesmos compusemos pra declamar cheios de orgulho no palco de madeirite erigido por mão-de-aço no lugar onde outrora havia um pelourinho na frente de uma senzala segundo Edvair Ribeiro e hoje se ergue um altar à deusa contradição.
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Faço a revolução com meus companheiros há sete anos! Desde o momento em que pusemos aquelas duas caixas de som que mais parecia duas casas de marimbondo na rua e inventamos de ressuscitar a palavra sarau por esses rincões que fazemos a revolução. E, portanto, ela não virá porque já veio.
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Astuto, cauteloso, romântico, ilustrado e soberbo, um grupo mameluco se pôs de pé ás margens do rio São Bartolomeu na luta pela liberdade de ocupar os espaços públicos e falar brava e serenamente os mais belos poemas da língua pátria sem se importar com o déspota de plantão. E não há tempo para parar. Não há tempo para analisar se o que foi dito está direitamente dito ou se a desordem perpassou de alto a baixo o feito prejudicando o entendimento. Não espero nem mais um minuto por quem quer que seja que não tenha em mente que este é um movimento de libertação das amarras que nos prendem ao conformismo. Abaixo as imposturas! Abaixo a covardia! Abaixo a tergiversação! Avante, companheiros da primeira e da última hora. Franqueza e lealdade serão nossas bandeiras. Mas não nos deteremos diante do populismo que grassa em nosso meio. Se lasque doido. Eu quero é sangue. Eu quero queimar o bezerro de ouro do capitalismo no pátio do aquário bar. Eu quero enforcar os detentores dos podres poderes com suas próprias gravatas. Eu quero tomar o poder à força das nossas palavras e dá-lo aos destituídos de honra da comunidade. Vamos comer o banquete dos poderosos com as mãos. Vamos por os cotovelos descascados sobre a mesa dos déspotas e riscar poemas sobre a mesa de mármore dos príncipes de mentira que teimam em reinar sobre nós, os verdadeiros donos de tudo. Vamos ocupar sorrateiramente todos os espaços que os vacilões deixarem vazios, com inteligência, educação, competência e qualificação. Vamos bailar a valsa em seus salões e saborear seus petiscos misturando-nos ao ponto de confundirmo-nos com eles e quando menos esperarem, zás.
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Suporto tudo com calma e serenidade. Vide minha canção “O Minotauro Protestante” que está postada no meu blog Dagomeh.blogspot.com. Ali descrevo o alto grau de paciência que me acomete desde sempre e isto é fato comprovado por todos que me conhecem. Ali descrevo que a única coisa que me tira do sério é quando dizem que eu erro. Pois eu não erro. Eu não erro. Eu uso tons dissonantes. Mas há uma outra coisa que me faz perder a calma. É a burrice. Não a ignorância, que isso todos seremos sempre, por mais que aprendamos. Falo da incapacidade de entender que assola um sem número de pessoas que nos rodeiam. Como aquele personagem de programas de humor, o Saraiva, eu não suporto imbecilidade e hoje, a meu ver, este é um dos maiores problemas dos radicais Livres. A falta de leitura. A falta de estudo. A falta de entendimento do que se lê e se estuda. A falta de compreensão estética. Um outro problema é que eu não sei como acabar com esse problema. Um outro problema é que eu não posso dizer isso sob risco de ser tachado de preconceituoso. Um outro problema é que eu não gosto de parecer preconceituoso. Adoro parecer politicamente correto. Mas não sou. Eu penso barbaridades e teço maledicências, mas tudo em segredo. Eu sou mau.
Penso em voltar pra Bahia e recomeçar a ASD. Acho que ainda encontro minha velha lupa ou meu manual de caratê nos furos do muro da minha velha escola. Acho que sei onde meu amigo Zé mora. Devo ter o suficiente pra comprar aqueles walkie talkies...
KINHENTUS ANUS DI ANAUFABETIZMO*

Perssebu qui os alunu nun tem interêci in apremdê i us profeçoris nun demonstrâu vomtadi di insiná. Pareci nun havê fauta di vaga nas iscola purqe o guvernu superlota elas colocanu maiz de cinkuenta minino ni cada sala causano o dizimterêçe dus alunu. Profeçoris mau kualificadus i mau remuneradus comtrebuin na formassão di um povo anaufabetu ou cemianalfabetu qui nun sabi nen iscrevê, nen fala, nen pençá, nen votá, devidu a fáuta de cutura apois cuma já dissi u’a peçoa qui eu nun alembru o nomi o pió anaufabeto é aqele qui sabi lê maiz nun lê.
Uz artizta – pimssipalmenti uz múzicus – qui poderião uzá us meiu de cumunicassão pra imssemtivá a cutura i comssientizá a juventudi só si preocupa in aparesser i ganhá dinheiru, abordano temas babaca em testos sem comssistencia auguma.
Os programa de guvernu e inté mesmu uz da çossiedade sivil, por çua veiz, nãu dezenvolvi nêium progeto qui, alén di aufavbetizá, si procupi em mantê o alunu ressén-alfabetizadu nun processu educassionau contínu, qui lhi permita pelu menu chegá inté o ensinu mediu, i axa qui aprendê a desenhá o própriu nomi é aufabetizassão. Nãu si qué aki di forma auguma desmerecê o trabalhu di tantus anonimus bataliadoris em favô da erradicassão deçe mal çecular da noça çossiedadi, maz sin xamar a atenssão para a nessessidade de se dá um sauto neça qestão, qui ezigi mais preparu e conhessimentu na ária de educassão e, assima di tudo, compromiço çossial.
Di boas intemssões o mundu está repletu. Não podemus maiz permití qui a iguinorânssia em relassão au anaufabetizmu, nu qui tanje aa questãu da leitura i da formassão entri aquelis qui, nu brazil, já si conçiderão aufabetizadus, prepomderi i continui reproduzinu um mundu qui tem pouqiçímas poçibilidadis di comtribuir para a formassão de indivídos poçuidoris de céus própius dezejus, inissiativas e emossõis. Assima de tudu pressizamus di um ensinu conprometidu com o potenssial kriativu, construtivu e transformadô.
Ôji to iscrevenu propzitaumenti erradu comu forma di protestu comtra o anaufabetizmu i contra essi cistema di educassão falidu, mais a realidadi, infelizmenti, é bem esta...
*Adaptação de Paulo Dagomé sobre texto do fanzine “Atropelados pela Concorrência” editado no Paranoá