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Sobre a Conferência e o Conselho de Cultura de São Sebastião


Ontem, no antigo Centro Cultural Allan Viggiano, hoje ISCAA

 Por Paulo Dagomé

A GÊNESE
Quando, em princípios de 2006, fui convidado para ser o ‘DRC’ (Diretor Regional de Cultura) da cidade de São Sebastião, no Distrito federal, fui primeiramente advertido de que não deveria compor nunca jamais nem never more um governo de ‘direita’ pois, militante do PT - desde os tempos da eleição de Cristovam Buarque, quando eu era um dos rapazes que pintava voluntariamente os muros e as faixas para a campanha em nossa cidade  - caso fizesse uma boa gestão, estaria vinculando o ‘bom trabalho’ ao nome de um governante neoliberal e, caso fizesse uma má gestão, envergonharia a ‘companheirada’. Mas isso é assunto para outro momento, uma vez que quero discorrer brevemente sobre a realização da Conferencia de Cultura em nossa cidade.

O TIME
Não dando ouvidos aos que pensavam que seria um erro compor com o governo Arruda foi que, contrariando os companheiros de partido, alguns deles meus amigos pessoais, assumi o órgão que passou a se chamar Gerencia de Desenvolvimento Social, que tinha entre suas atribuições o núcleo de Esporte e Cultura e comecei a articular alguns encontros dos artistas e agentes culturais da cidade com vistas à formação de um Conselho Comunitário de Cultura, a partir de um fórum de discussões para as quais, entre outros, trouxe um palestrante do naipe do hoje Diretor do FAC, Léo Hernandez, por intermédio de Daniel Pereira, figuras carimbadas da Juventude Petista sendo que este último, nos bastidores, muito colaborou nesta fase dos trabalhos.

DANGER
Naquele momento fui novamente ‘advertido’ por alguns companheiros esquerdistas de que estaria formando o Conselho de ‘cima para baixo’, a partir do próprio governo, pois, como a Diretoria de Cultura é um órgão do aparelho de Estado, não caberia a ela organizar o Conselho, pois isso seria atrelar o movimento popular ao governo, e, pior, ao governo do Arruda, que, segundo eles, estaria se apropriando de bandeiras tradicionalmente de esquerda, para se locupletar. Será – diziam - que eu não via que o Conselho deveria ser criado de forma autônoma, pelo movimento popular e pelos partidos e que, só depois que isso se efetivasse eu, DRC, iria dialogar com o conselho? Será – insistiam – que eu não percebia que a sociedade civil deveria se organizar espontaneamente e que eu incorria no erro de agir aristocraticamente na tentativa – vã – de organização da sociedade?

OUVIDOS MOUCOS
Pois bem! Não dando ouvidos, mais uma vez, aos que assim me advertiam, continuei com as reuniões, fundando, junto com a classe artística, o primeiro Conselho de Cultura da cidade, que foi empossado pelo Administrador Regional com toda a pompa e circunstância em cerimônia na Biblioteca da Administração, com Ata de fundação, estatuto, regimento, refrigerante, pão de queijo, cafezinho e publicação dos nomes dos Conselheiros no Diário Oficial, tudo conforme o figurino.

SOB AS PRÓPRIAS PERNAS
Neste ponto eu cessei minhas atividades em torno do Conselho, achando que a partir dali ele andaria com as próprias pernas, não sem antes preparar uma sala nas dependências da Administração Regional, com telefone, computador e secretária que ficariam à disposição do Conselho de Cultura e de outros Conselhos, como também abrindo mão da presidência do Conselho, posição que me era garantida, conforme regia o estatuto, como também, das pessoas que me era de direito indicar recomendei que metade delas fosse da sociedade civil e não do Estado, conforme me garantia o mesmo Estatuto, tudo para dar mais força à sociedade civil na hora das decisões.
Apesar de, a partir daí, as reuniões do Conselho terem se rareado até não existirem mais, considerei cumprida a missão que me auto-impus e toquei a vida pra frente.
Admira-me, mas também me alegra, (na verdade eu estou rindo à socapa) agora, que a Secretaria de Cultura do nosso governo petista, queira fazer ressurgir, a partir das Conferencias Regionais de Cultura, a figura dos Conselhos de Cultura, numa atitude exatamente parecida com a que adotei há anos.

DIAGNÓSTICO
De qualquer forma desejo relembrar alguns motivos que fizeram com que o Conselho não fosse á frente na nossa cidade, os quais talvez sejam os mesmos motivos porque não deram certo nas outras cidades do DF, a saber: A formação dos conselhos se deu eminententemente com elementos da classe artística local, os quais, por força da necessidade, exercem dupla função, com raras exceções: São trabalhadores das diversas áreas durante a semana e artistas no final de semana, o que faz com que sobre pouco tempo para a atuação no nível dos Conselhos, função que exige tempo e preparo, duas coisas difíceis de se conseguir quando se é morador de periferia e eu não acho necessário elencar os motivos.

AVALIAÇÃO
Acho, portanto, acertada a posição da Secretaria de Cultura de fomentar a realização das Conferencias de Cultura nas cidades e conseqüente revitalização do Conselho e conseqüente Conferencia Regional, não só por ser um indicativo de que o caminho que segui há anos estava correto, (estou rindo às escâncaras) como por entender que o estado tem a função precípua de propor caminhos para a sociedade e apoiar os caminhos propostos até mesmo preparando a população com cursos de formação nas áreas afins, mas fico com umas três pulgas atrás das orelhas em relação à dedicação dos conselheiros pelos motivos acima, principalmente levando em consideração a forma como foi realizada a conferencia de cultura de São Sebastião, sem o grosso dos ativistas culturais, mas tão somente com umas centenas de alunos da escola onde realizou-se a conferência, (Daí o motivo porque transformou-se na conferencia com maior numero de participantes) dos quais tirou-se umas quatro dezenas de delegados sem vivência na produção cultural da cidade, a não ser a de expectador ou fruidor da mesma, dos quais, ao final, muito poucos foram delegar na conferência e quase nenhuns irão militar no futuro.

Seguindo esta linha de raciocínio (e eu sempre espero estar errado) partimos do pressuposto de que as conferencias darão o rumo das políticas públicas para a cultura com a participação popular, como se todo artista (claro que estou falando do povo da periferia, do qual faço parte) dedicasse tempo à meditação sobre políticas públicas, já assoberbadas pela dupla jornada acima referida, agravada pela necessidade de escrever projetos para angariar recursos enquanto corre atrás de eventos para se apresentar sem falar nos ensaios para o próximo show, sendo que o que deveria ser função secundária (projetos e agenda) vira função principal (criação e ensaios) e vamos abandonando a arte propriamente dita, para nos tornarmos gestores de projetos e empresários, funções que nos vão escravizando e nos desviando da nossa verdadeira missão.

Neste processo, chupando os dedos e lambendo os beiços, aqueles mais preparados (que não estão nas periferias) vão se assenhoreando dos melhores nacos do dinheiro das políticas publicas e do dinheiro da iniciativa privada, enquanto os moradores das periferias, quando conseguem aprovar um projetinho, ou outro, vão a cair nas malhas da prestação de contas.

ESTETAS OU BUROCRATAS?
De artistas passamos a gestores de projetos, os quais são regidos por regras tão difíceis de decifrar quanto uma esfinge maia e ocupam tanto do nosso tempo que a arte se perde em meio à justificativas, metas e contrapartidas.

E lá vou eu, da periferia, mal articulado, mal preparado, mal ajambrado a discutir na Conferência de Cultura assuntos que não são da minha vivencia, com gente do cinema, do teatro, das artes plásticas e moradores do centro.

E eu estou falando de mim, que ainda consigo gaguejar algumas frases feitas, pois haverá sempre um sem numero de anônimos que vagueiam pelas beiradas da periferia e que nunca serão alcançados por nenhuma ação do poder público e seu linguajar específico e seu jargão tecnocrata.

Para tanto, nós, do Movimento SuperNova, apresentamos uma proposta de política cultural quando da formatação do Plano de Governo de Agnelo Queiróz, onde detalhamos melhor as idéias aqui sucintamente apresentadas e aguardamos, com profundo interesse, o desenrolar dos acontecimentos na expectativa de que a Secretaria apresente um Plano que cale fundo nos nossos corações já cansados de esperar pelo ano que vem.
Atualmente, no Colégio São Francisco

1 comentários:

Boa reflexão,Dagomé.Você retomou pontos muito importantes. Em relação à formação do conselho de cultura, realmente temos que reconhecer que o ativismo cultural local não esteve representado e ai eu fico pensando: a quem interessa, em nossa cidade, fazer da cultura mais um escoadouro de recursos públicos?

Quanto à composição do conselho, acredito que somente alguns poucos gatos pingados tenham vivência e atuação militante na cultura em São Sebastião, mas nesse contexto vejo algo muito positivo e gostaria de compartilhar com você. Trata-se da possibilidade que alguns dos novos membros (dentre eles, alunos, que foram inclusive criticados por algumas pessoas dada a inexperiência e falta de formação política de tais membros)de conquistarem autonomia, protagonismo e maior participação/atuação na comunidade.

Penso que, por mais importante que seja a representatividade da classe artística local no Conselho, não podemos delegar apenas a esses agentes o papel de discutir, produzir, disseminar e fazer cultura. Empoderar é preciso, oportunizar espaços para que as pessoas se sintam cada vez mais convidadas e acolhidas ao debate de ideias e projetos de interesse da comunidade, também o é.

Penso ainda que, mais importante que tudo isso, é fomentarmos cada vez mais a expansão e o fortalecimento do movimento cultural da nossa cidade. Temos grupos ai às pampas fazendo a sua arte do jeito que pode e com os recursos que dispõe, uns produzindo de forma ainda tímida, outros de forma mais arrojada e underground, como é o caso do próprio Supernova.

Não tenho bagagem no ramo cultural para desabonar fulano ou cicrano que porventura esteja integrando o novo conselho, mas de uma coisa não tenho dúvida: se o conselho recém-constituido não tiver o mérito de funcionar como espaço para a escuta, a troca de experiências e a discussão da diversidade de ideias no âmbito da coletividade, ele simplesmente não é digno de ser chamado de conselho. Se é conselho deveras, que seja participativo e representativo.

Abraço,

Francisco