Sossega meu doce amor
sossega meu doce amor fiquemos as mãos unidas
contemplando este lago e as suas águas cansadas
que sentados neste píer e chorando mansamente
vou fazer uma cantiga bastante desesperada
um frêmito de agonia percorre a
crosta terrestre
quando o palestino anônimo faz de
bombas suas vestes
e aciona o mecanismo que rompe o fino
liame
entre a alma e o corpo na coragem
pusilânime
um fumo de carne humana sobe dos
campos de batalha
velhas pranteiam seus mortos crianças
vestem mortalhas
estatuas tombam em câmera lenta sobre
as ruínas
ao grito dos mutilados pelo estouro
das minas
como num game sangrento sabe todo
general
não há possível retorno para o menu
principal
puxe-se então a descarga do sanitário
de almas
e apague-se da memória os cogumelos e
as armas
uma chicotada estala pelas entranhas
da terra
a cada corpo que abriga e ela como
que berra
um lamento planetário pelos filhos de
israel
líbano irã iraque e o seu cálice de
fel
mas todo discurso é pouco pra tamanha
estupidez
a gente acaba esquecendo porque é que
a guerra se fez
e seguimos tolamente lutando quais
suicidas
pagando com a moeda corrente da
própria vida
sossega meu doce amor fiquemos as mãos unidas
contemplando este lago e as suas águas cansadas
que sentados neste píer e chorando mansamente
vou fazer uma cantiga bastante desesperada
p.d.
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